UX Collective 🇧🇷 - Medium 10月27日 18:20
Design Brasileiro: Raízes, Impacto Social e Contribuições
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Este artigo explora a rica história e evolução do design brasileiro, destacando sua profunda conexão com a identidade nacional e seu papel como ferramenta de transformação social. A partir de citações de figuras icônicas como Sivuca e Joaquim Redig, o texto ressalta a importância de um design que considera fatores ergonômicos, antropológicos e ecológicos, indo além do estético para abraçar um propósito social. São apresentados cases práticos como o "Design e Impacto Social: construindo futuros" e o Museu da Maré, que demonstram o poder do design em promover inclusão e fortalecer comunidades. O artigo também celebra a contribuição pioneira de mulheres e a influência africana na formação do design brasileiro, evidenciando um legado multifacetado e essencial para a compreensão da cultura e da sociedade do país.

🇧🇷 **Identidade e Propósito do Design Brasileiro:** O design brasileiro, assim como a música, é intrinsecamente ligado à identidade do país, com raízes profundas e uma necessidade de auto-orgulho. A visão de Joaquim Redig, desde a década de 70, define o design como um equacionamento de múltiplos fatores (ergonômicos, perceptivos, antropológicos, tecnológicos, econômicos e ecológicos) voltado para o bem-estar e a cultura humana, posicionando-o como uma ferramenta inerentemente social e de mudança.

🌟 **Design como Ferramenta de Impacto Social e Comunitário:** A aplicação prática do design no Brasil é marcada por projetos que visam gerar impacto social positivo. Iniciativas como a coletânea "Design e Impacto Social: construindo futuros" e o Museu da Maré demonstram como o design pode ser usado para criar soluções mais acessíveis, inclusivas e sustentáveis, fortalecendo a memória, a identidade local e a resistência urbana, além de atender às demandas de comunidades e instituições.

👩‍🎨 **Pioneirismo Feminino e Influência Africana no Design:** O design brasileiro é moldado pelas contribuições de mulheres pioneiras como Carmen Portinho, Lina Bo Bardi, Renina Katz, Bea Feitler e Lucy Niemeyer, que desafiaram normas e enriqueceram o campo com suas visões e atuações. Paralelamente, a herança africana é fundamental, com povos que possuíam avançado desenvolvimento técnico antes da escravidão, e que no Brasil, especialmente na Bahia, moldaram a ourivesaria e o design de joias com elementos culturais únicos, como a penca de balangandãs, reafirmando a importância da diversidade étnica no design nacional.

Eu sou designer brasileiro, com muito orgulho e com muito amor.

Ziriguidum, borogodó & samba-lelê. Fonte.
“Mas [a música brasileira] não acaba não, porque nós temos raízes. E enquanto houver, pelo menos, 20 justos, a nossa música sobreviverá.
E nós estamos aqui para isso mesmo. Eu e alguns teimosos que existem no Brasil.”
— Sivuca (multi-instrumentista brasileiro)

Tava lendo uma entrevista do icônico Sivuca em que ele comenta sobre o cenário musical brasileiro em 1979 e a influência e ameaça da cultura norte-americana, que ganhava espaço na competição com a cultura brasileira. Inclusive, fenômeno o qual Nelson Rodrigues deu nome e sobrenome: complexo de vira-lata.

E uma coisa que me impressionou foi a lucidez com que ele raciocinou e interpretou o cenário cultural da época — que era sombrio, principalmente no ponto de vista de artistas brasileiros.

“Mas, felizmente, nós ainda temos, por exemplo, um Chico Buarque de Hollanda, que é um baluarte; nós temos um Zé Ramalho, um valor nordestino que começa a fazer sucesso no Sul do país…”
Sivuca (1979)

Essa lucidez me inspirou a vir aqui também lembrar que o design brasileiro, assim como a música, deve se orgulhar de pertencer ao país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza. E digo mais: se apoiar, formar comunidade e propósito.

Por isso, neste texto, falo com todo orgulho em ser brasileiro que meu coraçãozinho consegue comportar, sobre alguns materiais que selecionei de como o design se desdobrou ao longo das últimas décadas por aqui.

Ou seja, cada seção deste artigo é feita de recortes do design, teórico e prático, a partir do ponto de vista de pessoas brasileiras.

Ah, e se você sentir falta de algum case, pessoa ou tópico, deixa aqui nos comentários, por favor. Quem sabe não rola uma parte 2 deste texto… afinal, o design brasileiro é f*da, e alguns minutos de conteúdo com certeza não serão o suficiente pra falar de tudo que podemos aprender com nosso passado.

Agora sim, ao que importa.

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O design, pelo brasileiro Joaquim Redig

“O mundo precisa de mudanças graves e urgentes, e os designers têm muito a contribuir para isso. […]
Nossa metodologia de trabalho se baseia num enfoque abrangente dos problemas, para que as soluções sejam definitivas, e não paliativas.”
Joaquim Redig

Começamos nossa aventura em tupiniquim com o doutor em design e professor da primeira escola de design do Brasil, Joaquim Redig.

Já na década de 70, ele falava e defendia o design como ferramenta de mudança social. Inclusive, lançando na época um livro que é design à beça, pra não dizer outra coisa.

E é desse livro que vai sair o conceito brasileiro de design que vamos acordar como base pra tudo que vem aí.

Sobre desenho industrial (1977), de Joaquim Redig.

Analisou a imagem acima? Atenção aos detalhes. Em como Redig definiu o termo design (à direita) e ramificou seus conceitos (à esquerda).

“Design é o equacionamento simultâneo de fatores ergonômicos, perceptivos, antropológicos, tecnológicos, econômicos e ecológicos, no projeto dos elementos e estruturas físicas necessárias à vida, ao bem estar e/ou à cultura do homem.” (1977)

Em outra página desse mesmo livro, Redig mostra a estrutura “Homem, Forma, Utilidade, Indústria, Custo e Ambiente”.

Sobre desenho industrial (1977), de Joaquim Redig.

Aliás, a diagramação do livro chama a atenção, não chama? Segundo o próprio autor:

“O projeto do livro, que se confunde com a construção do texto, visa clareza, informação inequívoca, caracterizado como lógica cerebral, espécie de monólogo interno, derramado sobre o mundo.
Assim, se organiza como uma espécie de visão esquematizadora, quase manualizando a sua definição de design. Neste sentido, não há brecha possível para a interpretação do texto pelo leitor. Lhe resta acatá-lo e colocá-lo em prática.
O todo implica em leitura segundo ritmo ditado pelo autor, por meio da sua unidade diagramática, a página.”

Mas enfim, pra gente fechar essa definição, aqui o design é social por natureza. É inerentemente uma ferramenta de mudança social. É um projeto feito por e pras pessoas.

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O design na prática no Brasil

Bom, agora que temos um conceito de design brasileiro estabelecido, podemos abordar o design na prática.

E, claro, estamos falando de projetos que levam à risca essa definição.

Projeto “Design e Impacto Social: construindo futuros”

“O Design contribui de diversas formas para a construção de uma sociedade mais justa, é um aliado que pode atuar gerando melhores e maiores impactos sociais a projetos e instituições.
Está presente projetualmente no desenvolvimento de objetos, soluções, campanhas de comunicação e experiências mais acessíveis, diversas e sustentáveis para a sociedade, a economia e o meio ambiente.”
— Carla Piaggio, em “Design e Impacto Social: construindo futuros

O primeiro case escolhido pra este momento, na real, é um conjunto de cases em específico. Estamos falando na coletânea de projetos sociais chamada “Design e Impacto Social: construindo futuros”.

Página 50 do e-book “Design e Impacto Social: construindo futuros

Ó, um resumo desse livro nas palavras da autora:

“Escrito por profissionais baianos e atuantes na Bahia, traça um panorama sobre os diversos campos em que o design tem contribuído para promover experiências, produtos, serviços, comunicação e ações sociais inclusivas, sustentáveis, equitativas e transformadoras da sociedade.”

Clica aqui, faz seu cadastro e baixa gratuitamente o e-book:

Design e Impacto

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Projeto Museu da Maré

O Museu da Maré, no Conjunto de Favelas da Maré, Rio de Janeiro, é uma instituição cultural de grande relevância no Brasil, sendo o primeiro museu do país a operar dentro de uma favela, e é totalmente administrado pela comunidade local.

Essa iniciativa é considerada um exemplo de projeto de design social. Isso porque, em parceria com estudantes do Programa de Pós-Graduação em Design da UERJ (PPDESDI), que utilizou uma abordagem participativa pro planejamento do material gráfico-visual focado no eixo “Identidade e Conteúdo” e disponibilizado no Museu.

Foram levantados e catalogados os elementos que compõem a identidade da Maré, como vestimentas, eventos (como baile funk e churrasco), a linguagem local (“Mec”, por exemplo) e personalidades importantes (como Dona Orozina e Marielle Franco).

A equipe de design utilizou ícones de valor histórico-cultural criados em estêncil (como imagens do candeeiro, do rola-rola e das palafitas). Esses ícones foram a base para a criação de layouts de produtos de comunicação e promoção, como pôsteres, canecas e bolsas.

O processo garantiu que a voz da equipe do museu fosse ouvida e que as propostas estivessem em conformidade com os parâmetros definidos em conjunto.

A foto mostra a região da Maré na época das palafitas, uma das diversas imagens disponíveis no museu.

Ou seja, o Museu da Maré funciona como um fórum de ideias de relevância política e social, usando o design como ferramenta de memória e comunicação, promovendo a identidade local e a resistência urbana.

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Projeto Centro Integrado de Design Social (CIDS)

Esse projeto foi criado em 2016 pelo designer Edson Carpintero, na Universidade Estadual de Minas Gerais.

O CIDS propõe o desenvolvimento de projetos de pesquisa e extensão que atendam “às demandas da comunidade acadêmica, de instituições, de indivíduos ou de grupos sociais que não têm possibilidade de remunerar trabalhos de tal ordem.”

De acordo com Edson, o centro considera duas perspectivas em seus projetos:

Pra fechar com chave de ouro esta seção sobre o design a partir de ações de pessoas designers brasileiras, abram alas pra reflexão do mestre Aloísio Magalhães:

“Assim, da postura inicial de uma visão imediatista e inevitavelmente consumista de produzir novos bens de consumo, o desenhista industrial [designer] passa a ter, nos países em desenvolvimento, o seu horizonte alargado pela presença de problemas que recuam desde situações, formas de fazer e de usar basicamente primitivas e pré-industriais, até a convivência com tecnologias das mais sofisticadas e ditas ‘de ponta’.
Já não há mais lugar para o velho conceito de forma e função do produto como tarefa prioritária da atividade. Transitamos num espectro amplo de diversidade de saberes e de situações muito distanciadas: da pedra lascada ao computador.
Não estarão aí algumas indicações de uma reconceituação da atividade [do design em algo mais holístico e social]?
Não será esta a tarefa que deveremos fazer?” (1998)
Aloísio Magalhães

Aliás, você sabia que existe o dia do designer no Brasil? Dia 5 de novembro, pra ser mais exato.

E claro, é uma homenagem ao Aloísio, um dos pioneiros do design gráfico no país, sendo fundamental na introdução do design moderno no Brasil.

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Mulheres na história do design brasileiro

“Design é verbo e substantivo.
Design, enquanto verbo, diz respeito ao ato de projetar. Design, enquanto substantivo, refere-se aos artefatos em si, ou seja, às consequências das condições do projeto.
Logo, a conjunção das atribuições do design enquanto verbo e substantivo em uma única palavra expressa o fato de que são inseparáveis e de que nós, enquanto designers, somos responsáveis por aquilo que colocamos em circulação.”
Maureen Schaefer

Durante a pesquisa pra este texto, achei um material que me ensinou sobre 5 mulheres brasileiras que, entre 1930 e 1970, ajudaram a construir (e desconstruir) muitas ideias no design e na sociedade.

E é pra elas que eu queria dedicar esta seção.

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Carmen Portinho (1930)

Carmen Portinho, a engenheira civil e urbanista responsável pela construção do MAM.

Na década de 1930, Portinho trilhou seu próprio caminho profissional — e pioneiro — ao fazer o primeiro curso de urbanismo do país, sendo a terceira mulher brasileira a se graduar em engenharia (em 1926) e se tornou a primeira urbanista titular brasileira.

Mas, falando também sobre sua contribuição na sociedade, ela se dedicou a incentivar e ajudar as mulheres que se formavam na universidade. Pra isso, ela ajudou a fundar a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas e a União Universitária Feminina.

Sua estratégia era clara: ajudar as recém-formadas a ingressar no mercado de trabalho. Ela torcia pelo sucesso das mulheres e as indicava pra vagas de emprego sempre que tinha oportunidade.

Aliás, o esforço de militantes como ela, em conjunto com Bertha Lutz, por exemplo, foi importante pro direito da mulher à cidadania eleitoral no Brasil, em 1932.

No final, Carmen Portinho e suas companheiras promoviam pequenas contraculturas para resistir à condição de subordinação feminina na sociedade. Inclusive, um outro exemplo simbólico dessa resistência foi a decisão de não adotar o nome do marido no casamento, desafiando a tradição.

Braba, né? Mas calma, é só o começo…

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Lina Bo Bardi (1940)

Lina Bo Bardi, em 1988, na sua residência, no Morumbi, que ficou conhecida como Casa de Vidro.

Ok, você pode até dizer que ela não é brasileira. De fato, ela nasceu na Itália.

Inclusive, a vida dela na Europa foi bem intensa por causa da guerra: ela se filiou ao partido comunista italiano em 1943 e, no mesmo ano, o escritório dela foi bombardeado. Ela foi membro ativo da resistência durante a Segunda Guerra Mundial.

Mas é em 1946, quando chega ao Brasil, que ela se encontra — e o Brasil encontra ela, ainda bem. Isso porque ela via nosso país como “sem vícios e sem ruínas”. Ou seja, um papel em branco pra esperança em uma sociedade melhor.

Junto com seu marido e Assis Chateaubriand, ela também ajudou a inaugurar o Museu de Arte de São Paulo (MASP), que abriu em 1947, e o Instituto de Arte Contemporânea (IAC), que era anexado ao MASP e foi importante pra criar o design como uma disciplina de verdade no país.

Outra coisa que ela fez foi lançar a revista Habitat, que era ligada ao MASP. Essa revista buscava botar o design e a arquitetura em debate e tinha uma construção gráfica que era inovadora para o Brasil da época.

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Renina Katz (1950)

Renina Katz fez carreira nas artes e foi professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU) da USP por três décadas.

Renina Katz, carioca, foi uma grande gravurista que ingressou na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) em 1947.

No início dos anos 50, ela se mudou pra São Paulo pra lecionar disciplinas relacionadas à gravura no Museu de Arte de São Paulo (MASP) e na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).

Em 1956, ela publicou o álbum de gravuras Favelas, marcando o início de sua docência na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Seu trabalho era pautado em preocupações sociais e assumia um caráter de denúncia, dando protagonismo a personagens marginalizados e trabalhadores urbanos.

Renina defendia o papel do conhecimento na liberdade criativa, afirmando aos seus alunos que a disciplina de design não é uma prisão, mas que “libera”, e que para ser livre, “o conhecimento é fundamental”, pois quem não conhece, acerta “por acaso”.

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Bea Feitler (1960)

Bea arruma o mural de referências da “Harper’s Bazaar”, em 1965.

A Bea Feitler, também carioca, é considerada uma das brasileiras mais importantes na história do design gráfico no mundo, sendo uma das figuras principais da década de 1960.

Ela se formou na New York School of Design em 1958 e, ao voltar pro Brasil em 1959, trabalhou na revista Senhor.

Mas o boom mesmo na sua carreira aconteceu quando ela voltou pra Nova York em 1961 porque foi convidada pra ser assistente de arte na famosa revista Harper’s Bazaar.

Inclusive, vale dizer que ela se via como feminista, dizendo que qualquer mulher que se esforce pra ser um indivíduo ou que se valorize é feminista.

A prova disso é que ela foi uma das co-criadoras da revista Ms., que foi uma das primeiras revistas feministas a ter uma grande circulação, chegando a vender 300 mil cópias logo na primeira edição.

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Lucy Niemeyer (1970)

Lucy Niemeyer.

Por último e não menos importante, Lucy se formou em design em 1971 e fez doutorado anos depois na ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial) — aquela primeira escola de design do Brasil, lembra?

Sua produção acadêmica sempre teve um foco muito forte no ensino e na história do design brasileiro. Ela se dedicava a investigar uma abordagem mais próxima do design social, olhando pra como o design pode alcançar o bem-estar da população.

Aliás, o livro dela, Design no Brasil: Origens e Instalação (1997), não é só um apanhado de fatos; é uma grande problematização. Ela usa o livro pra tentar entender qual é o papel do designer no sistema capitalista e critica como o estatuto profissional foi criado no Brasil (por meio da ESDI), sendo visto como uma ferramenta política, mas sem de fato discutir a estética politizada.

Outro ponto que Lucy critica é que a pessoa designer fica meio “à deriva”, porque a profissão é indefinida, flutuando entre ser vista como atividade artística, invento tecnológico ou coordenação de especialidades.

No fim das contas, ela conclui que a pessoa designer muitas vezes age à mercê do capital e acaba a serviço dos interesses das classes dominantes, sem ter consciência do seu papel social.

Pra ela, quem trabalha com design precisa ser mais reflexivo e crítico sobre sua formação e atuação.

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A contribuição negra no design brasileiro

“É necessário e urgente incorporar à História do Design novo material, […] o das etnias historicamente discriminadas, índios e negros.
Ana Beatriz Factum

O design é universal. Ferramenta e ponte. História, sociedade e cultura.

Então, não teria como falar sobre o design brasileiro sem falar também da contribuição do povo africano na história da nossa profissão, né?

Por isso, começa agora a seção dedicada a explicar um pouquinho da influência negra no design brasileiro.

Projeto “Teoria do design”. Fonte.

Podemos iniciar dizendo o óbvio: a construção histórica e social do design negro no Brasil é apagada frente à história do design “tradicional”, que é eurocêntrico e geralmente ignora ou minimiza as contribuições africanas.

Então, aqui o objetivo é criar uma visão panorâmica dessas contribuições, desde o início até os dias de hoje.

É importante entender que, antes da escravidão, os povos africanos possuíam o mesmo desenvolvimento técnico dos europeus no século XV, dominando metalurgia (como a cera perdida), cerâmica e artesanato em vidro.

Eles produziam peças complexas e de alta qualidade, inclusive pro mercado europeu, como os saleiros em marfim, demonstrando que a África nada devia à Europa em termos técnicos e artísticos.

Inclusive, artistas africanos, ainda no século 15 ou 16, já exerciam o que hoje chamaríamos de “design”, adaptando padrões estéticos globais sem perder suas características locais.

No Brasil, a vinda brutal desses povos resultou na perda de identidade étnica, forçando eles a um processo de reconstrução cultural. Essa reconstrução gerou as chamadas “tradições inventadas”, onde costumes antigos eram adaptados a novas condições.

Materialmente falando, essa contribuição negra se manifestou, especialmente, na Bahia — considerada a parte mais africana do Brasil.

Um campo de destaque é a ourivesaria. Artistas e pessoas artesãs negras (muitos ex-escravos) produziam as joias crioulas ou escravas, que eram grandes, ricamente decoradas, e que injetavam valores culturais africanos na joalheria colonial.

Penca de balangandãs

Um outro exemplo legal desse legado é a penca de balangandãs. Essa peça, que incorporava amuletos e símbolos religiosos, foi forjada pela mão afro-brasileira e é considerada o primeiro exemplo de design de joias brasileiro. Isso contraria a tentativa histórica de invisibilizar o negro como projetista e executor da cultura material.

Mais recentemente, a partir dos anos 1970, houve uma reafirmação acelerada da cultura negra, impulsionada por movimentos como os blocos afro na Bahia.

Isso abriu espaço, por exemplo, pro “afro-design”, que usa referências africanas (sem necessariamente se prender a uma única origem geográfica) na moda e na decoração, com pessoas designers concebendo produtos pautados em temas africanos pro mercado e pra conscientização.

Portanto, a história do design negro no Brasil pode se resumir a um legado técnico sofisticado que, apesar da opressão colonial, busca reconstruir sua identidade e estética até hoje.

Ou seja, o design feito por pessoas negras tá aí pra influenciar a cultura material brasileira e desafiar a história “oficial”, pra que seja reconhecido o papel que lhe é de direito: o de protagonista da história do design brasileiro.

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Tópico extra: a tipografia “brasilêra” e soberana

A fonte Brasilêro, criada por Crystian Cruz em 1998, é fruto de uma análise de letreiros feitos à mão encontrados em diversas cidades brasileiras.

Isso aqui é design até o osso.

O projeto tipográfico de Crystian Cruz começou com a análise de centenas de letreiros feitos à mão encontrados em diversas cidades brasileiras, numa tentativa de traduzir o impacto dessa cultura visual popular em uma tipografia digital.

Esse é o design que empodera. Que traz o sentimento de pertencimento, de orgulho, de acolhimento. E, como vimos aqui, é nisso que o design deve (ou pelo menos deveria) focar.

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E aí, a gente é soberano ou não é?

Espero que este texto tenha te inspirado e feito refletir sobre como nosso país é rico também no quesito design, querida pessoa designer brasileira.

Um design que luta, que se posiciona, que faz sua microparte pra que alguma microparte no mundo mude.

Seguimos, por todo mundo que acredita e contribui pro design ser um orgulho e uma ferramenta de melhoria social em território nacional.

Podemos contar com você?🤝

Se quiser conversar sobre esse ou outros assuntos relacionados a design, comenta aqui ou me chama.

Aquele abraço soberano!

Referências


O Brasil é soberano também no design was originally published in UX Collective 🇧🇷 on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.

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