UX Collective 🇧🇷 - Medium 10月27日 16:22
应用人类学:将观察转化为服务价值策略
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本文探讨如何运用应用人类学,特别是田野调查(etnografia),将日常观察转化为具有实际价值的服务策略。文章通过巴西北部一个城市扩展水和污水网络项目的案例,展示了如何深入社区,理解历史遗留问题和被忽视群体的需求,从而重建信任并创造新的价值主张。研究强调了超越传统用户访谈的重要性,深入社区实地观察,识别隐藏的障碍,并将这些洞察转化为可行的产品和服务改进方案。案例中,研究者通过与不同社群成员的深度交流,揭示了信任缺失等在问卷调查中难以发现的问题,并提供了在UX研究中可借鉴的倾听和沉浸式研究方法。该方法不仅适用于UX研究,也能为商业决策提供重要参考。

📊 **田野调查的核心价值:** 应用人类学中的田野调查(etnografia)是一种将日常观察转化为有形商业价值的强大工具。它超越了传统的用户访谈,通过深入社区,实地观察人们的互动、识别无形的障碍,并将这些深刻的洞察转化为切实的产品和服务策略,尤其适用于需要重建信任和理解复杂社会动态的服务行业。

🤝 **重建信任的策略:** 在面临历史遗留问题和公众不信任的服务扩展项目中,如水和污水网络建设,仅仅提供技术解决方案是不够的。通过深入社区,倾听居民的诉求,理解他们的历史经历和情感联结,可以有效识别和解决信任壁垒,从而为服务创造新的、更具包容性的价值主张。

👥 **多维度用户画像与情境化洞察:** 采用细致的用户画像方法,将用户按其与服务的关系阶段(如“期待中”、“影响中”、“已完成”)和历史背景(如“老客户”、“新客户”)进行分类。结合沉浸式田野调查和每日集体汇报(debriefing)机制,能够将分散的观察转化为集体的、情境化的洞察,确保研究结论的可靠性和共享性,从而指导产品、客户体验和沟通策略的制定。

🗣️ **倾听与沟通的艺术:** 成功的服务策略需要建立在对目标受众有效沟通的基础上。通过长时间的倾听(extended listening)和对历史背景的理解,研究者可以识别出社区内部的权力动态和信息传播渠道(如WhatsApp、社区领袖),从而设计出更符合当地习惯、更具信任感的沟通方式,弥合企业与用户在信息获取和偏好上的差距。

💡 **价值创造的实践路径:** 基于田野调查获得的洞察,可以转化为具体的行动方案,例如:预先告知维修和工程计划;与边缘化社区建立尊重和公平的关系;加强教育和文化项目;以及提供人性化的支持。这些措施旨在将服务从简单的交付转变为与社区共同构建的过程,尊重其历史、社会和情感背景,最终实现社会和经济价值的双重提升。

Usando etnografia aplicada para transformar observação em estratégia de valor no cenário de serviços.

Chegada ao campo.

Como transformar observações do dia a dia em estratégias que realmente geram valor? Essa é a promessa da etnografia quando aplicada ao UX Research. Mais do que entrevistar usuários, trata-se de entrar no campo, observar relações, mapear barreiras invisíveis e traduzir histórias em caminhos práticos para produtos e serviços.

Neste texto, compartilho uma experiência conduzida em uma cidade do Norte do Brasil, onde a expansão da rede de água e esgoto exigia mais do que obras: era preciso reconstruir confiança e criar novas propostas de valor para comunidades historicamente negligenciadas.

Ao longo do texto, você irá encontrar a partir de um case prático sobre como a etnografia ajuda a revelar barreiras de confiança que não aparecem em surveys e lições práticas de escuta e imersão que podem ser aplicadas a pesquisas de UX.

Adendo: se você já atua com pesquisa, design ou produto ou deseja explorar estudos imersivos como ferramenta de inovação, este relato traz aprendizados que vão além do campo e se conectam diretamente às decisões de negócio.

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As condições da pesquisa

A entrega de água e esgoto reforçou uma operação de 20 anos, carregando um legado negativo de gestões anteriores.

O desafio não era apenas entregar água, mas recriar uma proposta de valor para públicos diversos: clientes antigos, novos, em obras, críticos, B2B, indo além do tangível “água na torneira”.

O objetivo era mapear barreiras de confiança e adoção dos serviços.

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Mergulhar nas dores dos clientes

Cidade do Norte, 2022.

Estou em um assentamento rural, numa das áreas periféricas da cidade, no oitavo conjunto habitacional. O sol é escaldante, o chão irregular e meu estômago embrulhado — percebo que me excedi com a quantidade de lactose ingerida e a intolerância dava seus sinais. Mas estava novamente ali: era mais um estudo etnográfico.

No mundo que habitava naquele momento, uma entrega de água e esgoto havia vencido uma licitação de 20 anos, assumindo um legado negativo de gestões anteriores. Suspender o abastecimento irregular não resolveria o problema. Era preciso ir além: entender pessoas, histórias e expectativas, e transformar água e esgoto em símbolo de cidadania.

O que a companhia desejava saber era, na medida em que vivemos nossa vida com outros, e esses outros são pessoas com quem habitamos (ou coabitamos) o mundo, como criar novas relações?

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Recrutando

Um campo intenso de 3 dias. Como diria a antropóloga Veena Das (2021), o ato de escrever é feito dentro de uma forma de vida e não fora dela. Com isso, a autora chama a atenção que, ao pesquisar algo, estamos pensando no mundo que habitamos.

Os perfis de conhecimentos e stakeholders foram derivados conforme o estágio da relação com a marca, focando em como a experiência muda conforme o estágio, o histórico e o papel do cliente. Os perfis eram:

Após o mapeamento prévio de perfis e compreender o histórico de cada grupo, a pergunta seguinte era inevitável: como transformar essas observações dispersas em insights confiáveis e compartilháveis? Como manter a riqueza da pesquisa qualitativa sem perder ritmo e aplicabilidade?

A complexidade do campo não estava apenas nas pessoas que encontrávamos, mas também na interpretação que fazíamos delas e essa interpretação precisava ser coletiva, para não se perder nas lentes individuais.

Na próxima sessão apresento como o ritual diário de debriefing consolidou como estratégia central, transformando impressões soltas em um diário coletivo de insights, capaz de guiar decisões de produto, CX e comunicação.

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O hack do debrief: transformar impressões soltas em insights coletivos

Imersão com as equipes da companhia

Sigo acompanhando a equipe de serviço de água e esgoto. É uma jornada com exercícios às 07h, exercícios em um galpão. Percebo que o sedentarismo fez várias vítimas, eu inclusive. Ali, às 07h da manhã, era o primeiro contato da equipe com os funcionários da companhia.

Construir relações de proximidade naquele momento garantiam que a circulação por territórios na cidade do Norte, fossem frutíferos. Aprofundar conversas, construir relações sem pressa e em espaços informais exigia, como escreveu Stefane Beaud e Florence Weber (2007, p.84): aliados que ajudariam a penetrar no meio, atuando como cartas de referências junto àqueles que poderiam mostrar-se reticentes para uma conversa.

O primeiro desafio era construir relações. O segundo, ao fim do primeiro dia, estava aqui:

Mas como reunir percepções garantindo a qualidade das observações? E que então os insights e percepções não sejam exclusivos mas partilhados por todos?

O risco de que as observações da equipe possuíssem um viés individual eram imensos, tornando a confiabilidade dos achados frágil. Poderia ocorrer que uma observação pontual torne-se recorrente pela visão de uma pessoa e não de outra.

Para isso, o ritual diário consistia reunir a equipe (produto, CX e pesquisa) a partir de saturação teórica. Debriefings diários permitiam que as mesmas cenas fossem revividas, com cada pessoa a narrando. A pessoa seguinte adicionava novos aspectos, o que permitiu criar um diário coletivo com detalhes contextuais e com checagem coletiva dos achados.

Com mais pessoas observando, um mesmo comportamento era lido como de caráter prático (CX), estratégico (produto) e relacional (pesquisa). Além disso, anotações diárias permitiam cavar uma trilha transparente do raciocínio da equipe.

Os desafios naquele momento não eram apenas negociar a presença em campo, mas criar mecanismos de interpretação coletiva: construir significado junto e não sozinho. A segunda camada do desafio estava em preservar a densidade da pesquisa qualitativa sem perder a agilidade exigida por projetos de UX e serviços.

Nesse cenário, o papel do UX Researcher foi atuar como conector: articular olhares, facilitar diálogos e criar condições para que os vieses individuais fossem neutralizados pelo coletivo.

A estratégia para seguir adiante era que observaríamos o cenário, quem estava, em que momentos, e quais atividades realizavam. Conversas informais em filas, mercados ou enquanto tomavam água eram bem-vindas.

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Hack do mapeamento de poder: escuta prolongada + contexto histórico

Conversa com população ribeirinha e histórica com marca.

Seguimos acompanhando a equipe. Chego na primeira parada, a casa de Dona Cida. Com um sorriso, aceita conversar. A fala ao final de Dona Cida era somente uma:

“Há 20 anos que moro aqui, e é a primeira vez que alguém vem conversar comigo.”

Essa conversa de 30–40 minutos me permitiu duas coisas.

Primeiro, mapear prioridades da comunidade para criar ofertas de serviços mais equitativos.

E segundo e mais importante: entender as relações de poder no território.
As gerações de pessoas negras e indígenas na comunidade viveram sem acesso à água encanada e moradia própria. Os 20 anos de Dona Cida refletem não apenas a falta de infraestrutura, mas também a fragilidade no vínculo emocional com a companhia de água e esgoto, herdada de seus pais e avós. Essa insatisfação histórica se prolonga por gerações, impactando emocional e socialmente a relação com o serviço.

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Dinâmica política contemporânea

Atores com influência:

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Atores impactados:

Durante o projeto, identifiquei situações críticas: a empresa frequentemente quebrava calçadas e casas dos clientes sem aviso prévio, retornando depois com qualquer tipo de reparo improvisado. Era dessa forma que o legado se manifestava: negação do direito ao reparo com qualidade.

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Comunicação e confiança

Em um novo mundo, a marca provavelmente tratará essas pessoas como cidadãos com direito à decisão, e não apenas como pontos de toque de obra a serem contornados rapidamente.

Não ser tratado como cidadão com direito à decisão causa um efeito pernicioso para a performance dos canais da marca.

Muitos clientes, ao não se sentir valorizados, buscaram informações fora dos canais oficiais da companhia. A preferência era por parceiros comunitários, canais informais e líderes comunitários. Isso gerou conflito entre a expectativa da empresa (uso do digital) e o comportamento real do cliente.

Diferenciar informações práticas de insights estratégicos foi crucial. Por exemplo, a comunidade se comunicava via WhatsApp e carros de som, enquanto a empresa enviava SMS. Entender esses fluxos permitidos desenhar jornadas de comunicação mais eficazes.

A partir da percepção de que havia barreiras de confiança sobre o tratamento dos clientes, isso permitiu identificar os canais alternativos e gerar ações educativas da empresa.

Uma substituição brusca era impensável, o percurso seria integrar uma lógica digital ao repertório já existente do cliente. Cada intervenção será comunicada com antecedência.

Esse movimento impediu o atrito na adoção do digital, ampliou a percepção de confiança no canal oficial e deu insumos para criar campanhas de educação mais alinhadas à experiência real dos clientes.

A partir dos insights de campo, traduzimos observações em ações concretas:

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Soluções para novo mundo, velhos perfis e novas relações de valor

Expansão da rede vegatativa de abastecimento de água e esgoto.

Dias de imersão e observação, entrevistas mantém o sabor que cada grupo de clientes enxerga o serviço de forma distinta, moldado por histórias, relações de poder e experiências passadas.

A etnografia permitiu traduzir essas experiências em perfis concretos, conectando necessidades, expectativas e significados simbólicos a propostas de valor estratégicas.

Nesta seção, apresento como insights de campo se transformam em ações aplicáveis: da confiança e transparência para moradores antigos, à inclusão social de novos clientes, passando pelo empoderamento juvenil e eficiência para clientes B2B.

Aqui, o aprendizado é que serviços não são apenas entregues, mas construídos junto às pessoas, respeitando contexto histórico, social e emocional.

1. Clientes atuais — Confiança e Transparência

Cada calçada quebrada sem aviso é uma cicatriz no chão de sua vida. Deseja a escuta, ter respeito pelo patrimônio e ser clara sobre as cobranças.

Proposta de valor: Confiança e transparência. Mostre que cada reparo, atendimento e fatura respeitam a história da comunidade e dos lares.­

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2. Clientes questionando o pagamento de esgoto — Educação e Valorização Coletiva

Alguns moradores veem a cobrança de esgoto como água que passa pelos bolsos sem retorno. Para eles, pagar é como semear em solo seco esperando frutos tangíveis. Querem entender o valor do serviço e sentir que são recomendados para melhorias locais.

Proposta de valor: Educação e valorização coletiva. Demonstrar como água e saneamento elevam saúde, qualidade de vida e valorização imobiliária, conectando tradição e modernidade.

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3. Idosos — Atendimento Inclusivo e Acessível

A conta de água é mais que números: é um mapa da cidade percorrida a vida toda. Linguagem simples, atendimento presencial e previsibilidade transformam ansiedade em confiança. Deseja clareza, simplicidade e suporte humano.

Proposta de valor: Atendimento inclusivo, comunicação adaptada, educação hídrica e financeira, suporte humano consistente.­

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4. Clientes novos ou em expansão — Inclusão Social

Mora em uma área recém-regularizada, recebe sua primeira conta de água. É como receber um bilhete que diz “você existe", um símbolo de cidadania, dignidade e oportunidade para seus filhos. Deseja água limpa, reconhecimento social e esperança para a próxima geração.

Proposta de valor: Inclusão social: transformar o acesso à água em empoderamento comunitário e melhoria da qualidade de vida.­

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5. Jovens — Empoderamento Juvenil e Educacional

Desejam estudar, empreender e transformar a própria comunidade. Para eles, um tubo de água é como uma ponte invisível para sonhos e oportunidades. Desejam educação, acesso à informação e ferramentas para mudar o futuro da comunidade.

Proposta de valor: Empoderamento juvenil — ações educacionais, inclusão digital e programas culturais conectando jovens ao serviço de água.­

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6. Clientes B2B com poço próprio — Eficiência e Soluções Personalizadas

Para o pequeno comerciante local, cada litro de água é como cada grão de areia em sua construção, desperdício ou atraso significa prejuízo direto. Deseja eficiência, soluções personalizadas e previsibilidade não adequadas.

Proposta de valor: Atendimento especializado — integração técnica e gestão de recursos hídricos para clientes estratégicos.

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Voltar pra casa

Considerar o contexto social e histórico das comunidades é uma chave para criar relações sustentáveis. Histórias e cenários compartilhados pelos moradores revelaram relações de poder, desigualdades e injustiças históricas: comunidades com 30–40 anos de existência ainda sem água encanada, ligações clandestinas toleradas pela empresa, ou cortes que exercem fricção e desconfiança.

O antropológico permite costurar mundos diferentes, um exemplo de ligações irregulares de água, o desejo de tratamento humanizado e expansão de um negócio de concessão de água e esgoto em estratégias de impacto de longo prazo, construindo valor social e econômico simultaneamente.

Essa experiência evidencia que comunidades marginalizadas têm voz própria e gerenciam poder interno de maneiras complexas.

Para que uma proposta de valor realmente funcione, é preciso respeitar essas dinâmicas, criar confiança e mapear relações de poder, garantindo que serviços essenciais não sejam apenas entregues, mas acompanhados de reconhecimento, participação e dignidade humana.

Referências


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