Porque essa “parte” do design ainda é vista como não tangível.

Nos últimos anos, o design de produto digital se consolidou como área estratégica para empresas de todos os tamanhos. Termos como UX Design, Product Design, Design Thinking e Pesquisa de Usuários ganharam relevância nos conselhos executivos e passaram a guiar decisões de negócio.
No entanto, enquanto o foco em user experience cresceu, o termo Visual Design — a camada visual que materializa essa experiência — foi frequentemente colocado em segundo plano, tratado como “superficial” ou “menos relevante”, por muitas pessoas da área, inclusive nós mesmos “designers”.
Esse movimento gerou um preconceito estrutural contra Visual que ainda persiste no mercado. O curioso é que, sem o visual, não existe experiência digital concreta. Afinal, é na interface que o usuário interage, sente confiança, percebe valor e cria vínculos com um produto.
Um estudo do Research Gate constatou que 94% das primeiras impressões de um site estão relacionadas ao design visual. Também foi descoberto, por meio de estudos em Neurociência da Percepção Instantânea, que os usuários formam uma opinião sobre uma marca ou produto em apenas 50 milissegundos (0,05 s) após a visualização de uma interface.
Neste artigo, vou aprofundar de onde vem esse preconceito, como ele impacta profissionais e empresas, e porque Visual precisa ser reposicionado como parte estratégica da experiência.
"O design visual ainda decide tudo, porque ele fala primeiro. Os usuários não avaliam o conteúdo primeiro. Eles sentem o design primeiro. Depois, decidem se vale a pena investir tempo. Sem confiança? Sem scroll. Não importa o quão inteligente seja o seu conteúdo."
— Ronald Mason
Um breve resumo
A origem do preconceito UX vs Visual
A separação entre UX e Visual não nasceu do nada. Durante muito tempo, o design foi associado quase exclusivamente à estética. Quando a disciplina de UX emergiu com força, trouxe consigo a narrativa que “design não é só aparência, é também pesquisa, estratégia e usabilidade”.
Essa mensagem foi necessária para expandir a compreensão de design no mercado, mas trouxe efeitos colaterais: Visual passou a ser reduzido à aparência, quase como um detalhe cosmético.

Essa visão foi reforçada por livros, palestras e cursos que colocavam UX como o “cérebro” e Visual como o “embelezamento final”. Aos poucos, empresas e até designers internalizaram essa hierarquia de valor, onde o Visual seria algo “subordinado” e menos estratégico. Só que não.
A explosão de cursos e a superficialização do Visual
Outro fator que alimentou esse preconceito foi a proliferação de cursos rápidos de UX/UI. Em busca de atender a uma demanda crescente do mercado, muitas formações condensaram conceitos complexos em módulos simplificados, deixando de lado fundamentos visuais profundos como:
- Teoria das cores;Tipografia e legibilidade;Hierarquia e composição visual;Direção de arte e consistência de marca.
Com isso, novos profissionais e pessoas migrando de outras áreas passaram a enxergar Visual apenas como “montar telas em Figma” ou “usar kits prontos de componentes”, os famosos Design Systems. O resultado foi um mercado inflado por entregas visuais medianas, que reforçaram a ideia de que o visual “não agrega tanto valor” quanto pesquisa ou estratégia de produto.
Na prática, o problema não está no Visual em si, mas na formação rasa que o reduziu a uma execução automatizada de “pintar botões”.
O peso das métricas e a invisibilidade do visual
O preconceito também se explica pela lógica empresarial. Em negócios digitais, o que não é facilmente mensurável tende a ser subestimado. É simples demonstrar o impacto de uma melhoria no funil de conversão ou em uma jornada de checkout. Já provar numericamente como a harmonia visual aumenta confiança e influencia decisão é mais complexo.
Essa dificuldade em transformar a estética em KPI fez com que o valor do Visual ficasse invisível e raso em muitas discussões de negócio. Só que, paralelamente, a primeira impressão de qualquer produto digital é sempre visual. Antes mesmo de interagir, o usuário já decidiu se confia, se entende e se sente confortável naquela interface.
A confiança, o prazer e a clareza transmitidas por uma boa interface são intangíveis, mas têm efeitos muito concretos: maior retenção, mais engajamento, menos suporte e até maior percepção de valor da marca.
Visual não é estética isolada, é experiência materializada

Um erro comum é pensar no Visual como “camada decorativa”. Na verdade, ele é o ponto de encontro entre a intenção estratégica de UX e a percepção real do usuário.
- Um fluxo de compra bem pensado só funciona se a interface tornar esse caminho claro, intuitivo e confiável.Um app de saúde só transmite segurança se a interface traduzir credibilidade por meio de tipografia, cores e consistência.Uma plataforma de investimentos só gera confiança se o visual reforçar estabilidade e profissionalismo.
Ou seja, sem Visual, a experiência não existe de fato. A estética não é separada da funcionalidade — ela é a própria forma pela qual a funcionalidade se manifesta.
Como superar esse preconceito?
Para reposicionar o Visual Design como uma disciplina estratégica dentro da empresa, é fundamental considerar alguns pontos que influenciam diretamente a maturidade dessa área nas empresas. Esses fatores vão desde como o design é percebido internamente, até como processos, métricas e práticas sustentam sua evolução.
Educar o mercado: demonstre como o design visual influencia métricas indiretas; utilizando testes A/B/C e de percepção para reunir evidências qualitativas e quantitativas sobre a interface.
Valorizar fundamentos de design: Profissionais dessa área precisam dominar princípios visuais além dos frameworks convencionais que existem no mercado de produto. Tenha consistência visual sobre as decisões da interface, crie insumos a partir de seu know-how de formação visual; como direção de arte, hierarquia e consistência de marca.
Integrar UX e Visual como parceiros: Não há hierarquia, são duas dimensões inseparáveis da experiência. Se por um lado o UX designer possui seu lado pesquisador, o Visual Designer sempre terá o refino estético. O caminho é unir a força de cada um para validar ideias consistentes.
Traduzir o impacto visual para a linguagem de negócios: em vez de sustentar decisões apenas em opiniões pessoais, conecte suas escolhas visuais a objetivos concretos de marca e produto. Tenha embasamento para justificar cada decisão, como por exemplo: ‘A escolha desta cor e deste espaçamento foi validado a partir do contraste em testes de acessibilidade, alinhado à identidade de marca.’”
Por fim, o preconceito contra o Visual Design nasceu de uma visão simplista que associou visual apenas à estética superficial e em “achismos”. Na realidade, Visual é a camada que materializa a experiência do usuário, influencia confiança, gera retenção e reforça a identidade de um produto.
Se o mercado quer criar experiências digitais completas e competitivas, precisa abandonar a visão de que o Visual Design é “menos importante”.
O visual não é enfeite. É estratégia. É experiência. É valor.
É isso. Se quiser trocar uma ideia sobre o assunto me chama aqui.
See ya.
Referências
- Donald Norman — The Design of Everyday Things (2013)Alan Cooper — About Face: The Essentials of Interaction Design (2014)Tractinsky, N., Katz, A. S., & Ikar, D. (2000). “What is beautiful is usable.” Interacting with Computers.Trust and mistrust of online health sitesFirst Impressions Matter: Make a Great One With Visual DesignWhy Visual Design Still Decides Everything?UX is Not Design
O estigma do mercado de produto em relação ao Visual Design was originally published in UX Collective 🇧🇷 on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.
