Como o simples ato de escrever se tornou uma ferramenta de organização, aprendizado e autoconfiança no meu dia a dia.

De onde surgiu essa necessidade?
Sempre me considerei uma pessoa organizada mas, no início da minha carreira, percebia que minha comunicação em apresentações acabava ficando um pouco confusa. Além de falar rápido demais, eu não me preparava o suficiente e acreditava que conseguiria transmitir minha linha de raciocínio com clareza apenas no momento da apresentação.
Da mesma forma, muitos dos assuntos que chegavam até mim — seja em conversas, reuniões ou pesquisas na internet — acabavam sendo facilmente esquecidos. Isso passava a impressão de que eu não estava realmente presente nesses momentos, o que comprometia como as pessoas percebiam minha postura profissional.
Durante uma reunião de PDI com uma das minhas antigas lideranças, recebi uma sugestão simples, mas poderosa: anotar tudo. Desde assuntos discutidos em reuniões, passando por pontos importantes de conversas no chat, até conteúdos interessantes que encontrei na internet.
Anotar seria a forma de registrar minhas primeiras impressões sobre cada tema.
Um ponto de partida para organizar meu pensamento antes de avançar para os próximos passos.
O que mudou quando comecei esse hábito
Desde que comecei a anotar com mais intenção, seja à mão ou no digital, percebi que meu cérebro passou a trabalhar de outro jeito.
Escrever me força a organizar as ideias, entender o que estou absorvendo e até perceber quando não entendi nada e só achei que tinha entendido.
Pensando em uma forma mais ampla focada no autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, no livro “O caminho do artista” escrito pela Julia Cameron — que é comumente lido por pessoas que desejam ativar seu lado criativo — a autora indica fortemente o exercício da escrita e mostra como ele pode ser um grande aliado para pessoas que desejam compreender a si mesmas ao permitir que a fluidez dos seus pensamentos seja transferida para um papel atráves da escrita.
O processo de anotar explicado na prática
Quando escrevo, reorganizo mentalmente o conteúdo que me foi apresentado, tirando até melhores conclusões.
De fato, escrever é uma forma de refletir e não apenas absorver. O que você faz com a informação recebida é muito mais importante do que realmente captá-la. A escrita me ajuda a manter um histórico pessoal dos fatos tornando possível sintetizar melhor as alterações e opiniões diferentes recebidas ao longo dos dias.
Com o alto volume de informações que recebemos diariamente, confiar apenas no cérebro para armazenar, organizar e transformar tudo isso em ações ou conteúdo útil é um caminho quase certo para o esquecimento. Particularmente, prefiro adotar um sistema que me ajude nessa rotina. Assim, consigo deixar a mente livre para focar no que realmente importa.
O local onde escrevo varia muito. Geralmente utilizo o Notion como plataforma de organização, dividindo cada conteúdo por página em áreas específicas da minha vida (Carreira, Pessoal, Estudos…).
Utilizo o método GTD (Getting Things Done) do David Allen, explicado melhor no livro “A arte de fazer acontecer” que, de forma bem resumida, consiste em ter uma espécie de Caixa de Entrada para colocar ali tudo o que chega até mim em primeira mão (ou seja, tudo o que eu ainda não terei tempo para processar).
Essa caixa de entrada pode ser tanto física quanto digital e, no livro, ele criou um processo bem didático pra implementar em qualquer forma de organização, seja de conteúdo, ou de áreas da vida no geral:

Reservo um dia ou momento da semana para fazer a sintetização do conteúdo e dividi-lo entre as pastas, criando também os planos de ação para cada um deles (quando houver).
Dependendo do dia sinto saudades de escrever à mão, então gosto de anotar tudo no papel, seguindo o mesmo método.
De qual forma esse método está me ajudando a dominar assuntos complexos?
Especialmente em assuntos mais complexos, como os cursos que faço para evoluir na carreira, anotar tem me ajudado muito na síntese e também na escalabilidade do conteúdo.
Já me cansei de fazer cursos apenas para conquistar o diploma e postar no LinkedIn. Terminava um e logo começava outro.
O problema é que, em muitos deles, lembro quase nada do que aprendi, justamente por não aplicar o mínimo necessário de organização e síntese do material absorvido durante as aulas.
Recentemente, ao anotar os principais tópicos de um curso, consegui transformar o conteúdo em um material de estudos próprio e personalizado.
Com a ajuda da IA da Google, o “NotebookLM”, importei esses apontamentos e converti em diferentes formatos que potencializam o aprendizado: mapas mentais, vídeos, áudios e relatórios.
Além disso, costumo pedir que a IA transforme o conteúdo em perguntas, o que me ajuda a praticar continuamente o que aprendi. Também é útil solicitar que ela sugira formas de aplicar esse conhecimento em situações reais do dia a dia ou do trabalho, garantindo assim um aproveitamento muito maior da informação.
Anotar também me ajuda a me comunicar melhor em reuniões
O meu trabalho como Product Designer exige que eu saiba articular bem as minhas decisões.
Ao apresentar uma proposta de design, não basta apenas mostrar uma tela: é essencial explicar o racional por trás de cada escolha, contextualizar e deixar claras as regras de negócio aplicadas àquela solução.
Por isso, anotar previamente os pontos em forma de roteiro tem sido fundamental. Além de servir como material de estudo antes da apresentação — ajudando a organizar meu raciocínio — também me dá mais segurança durante a reunião. Caso eu esqueça algum detalhe, posso recorrer rapidamente ao roteiro para me orientar e não deixar nada importante passar.
Esse hábito também funciona para dúvidas e pendências que precisam ser resolvidas no encontro e não podem ficar para depois.
Embora eu seja fã e adepta da comunicação assíncrona, reconheço que há questões que só avançam em uma conversa síncrona. Por isso, considero crucial aproveitar cada reunião ao máximo, evitando a cultura de marcar agendas desnecessárias.
Ter uma lista clara de pontos a resolver faz toda a diferença para que cada encontro seja produtivo e objetivo.
Roteiros de apresentação
Uma das experiências mais assustadoras (e ao mesmo tempo mais legais) da minha carreira foi apresentar uma proposta de design em inglês para um cliente da Suíça.
Eu confiava plenamente na proposta e nas decisões que havia tomado, mas o verdadeiro desafio estava em conseguir transmitir essas ideias em outra língua.
Criar um roteiro para essa reunião foi decisivo.
Ele me garantiu uma apresentação concisa e organizada, além de servir como apoio para lembrar palavras e expressões que, no nervosismo, tendem a simplesmente sumir da cabeça.
Na prática, o roteiro foi simples, mas muito eficiente:
- Organizei os slides que apresentaria, com títulos e apenas bullet points acompanhados das imagens das telas.Criei um documento de texto com os mesmos títulos dos slides.Escrevi literalmente o que diria, com as mesmas expressões que uso ao falar, seguindo a ordem exata em que queria apresentar cada informação.Destaquei em negrito as palavras mais importantes, para facilitar a leitura rápida.Pratiquei bastante antes da reunião, para evitar a sensação de estar apenas “lendo” um texto.Durante a apresentação, mantive o roteiro em uma tela separada e compartilhei apenas os slides com os participantes.
O resultado foi excelente e muito elogiado. Claro, eu poderia ter improvisado, mas isso significaria contar com a sorte, e não gosto de trabalhar assim. Prefiro esse método porque me dá a segurança de que todos os pontos serão cobertos.
Além de soar mais profissional, ele impacta diretamente no meu emocional: me deixa mais confiante e com a sensação única de estar verdadeiramente preparada.
Tornar o pensar visível
Refletir sobre a prática de anotar é perceber que estamos tornando nosso pensamento mais visível e concreto. Cada palavra escrita funciona como um espelho do que passa na nossa mente, permitindo organizar ideias, registrar insights e até perceber lacunas que antes passariam despercebidas.
É uma forma de materializar aquilo que normalmente seria apenas abstrato, transformando pensamentos em algo que podemos revisar, aplicar e evoluir.
Se você está pensando em tentar, vale lembrar:
Não precisa ser bonito nem perfeito. O mais importante é que funcione para você. O ato de escrever deve servir ao seu raciocínio, e não o contrário.
O que importa é que você consiga usar isso como suporte para pensar, praticar e aplicar seus aprendizados.
E, talvez, o maior convite que essas práticas nos fazem seja mais profundo: e se escrever for, na verdade, o seu jeito de ouvir a si mesma com mais atenção?
Ao colocar ideias no papel ou na tela, você cria um espaço seguro para se compreender melhor, para se preparar de forma consciente e para agir com mais clareza em situações do dia a dia ou no trabalho. Tornar o pensar visível é, no fim, um exercício de autoconhecimento e eficácia.
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Referências
- O caminho do artista — Julia CameronA arte de fazer acontecer — David AllenNotebookLMNotion
O hábito de anotar tudo está me ajudando a pensar melhor, aprender mais e me comunicar com clareza was originally published in UX Collective 🇧🇷 on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.
