Uma palestra de Mike Monteiro.

“Nosso objetivo não é apenas frustrar o fascismo no aqui e agora — e ele está aqui agora.
Nosso objetivo é ajudar a construir um mundo melhor onde o fascismo tenha muito mais dificuldade em se enraizar.”
— Mike Monteiro (tradução livre)
Sim, vamos ter essa conversa.
Antifascismo é uma bandeira necessária na profissão designer, ou seria, anterior ao design, uma bandeira de quem sabe seu papel e responsabilidade enquanto pessoa cidadã? Explico:
Imagina o poder de criar interfaces e projetos que podem influenciar na vida de milhares, quiçá milhões de pessoas, e ter enraizado na mente o pensamento primitivo da existência de uma raça humana “superior”, ou de uma religião, ou fé “verdadeira”, ou simplesmente no “lema” de vida focado em separar, não unir. Excluir, pra ser mais exato.
É sobre isso que Mike Monteiro vai nos falar nessa apresentação necessária de mais de 40 minutos, mas que resumi bem resumidinho aqui pra te dar um spoiler e trazer esse papo pra mesa.
Sabe, confesso que pensei bastante antes de escrever este texto. Mas ficar quieto vendo as coisas dando errado no mundo por pura ignorância, ganância e individualismo não combina comigo — e, claramente, com Mike também não. Então, se você se identifica com isso, tá no lugar certo.
Ah, e como quero abrir espaço pra esse assunto de maneira respeitosa, me sinto na obrigação também de lembrar: fascismo é crime, tá? Com ideias fascistas não há diálogo.
Assista ao vídeo original depois de ler aqui também. Sério, papo de amigo. Tem muito mais detalhes e exemplos, e o link tá lá nas referências. Inclusive, testei a legenda em português e funciona bem.
Bom, introdução feita. Vamos ao assunto.
O design é político
Começamos numa questão que pode ser tabu pra algumas pessoas: o que design e fascismo tem a ver?
Mike Monteiro conceitua o design como sendo a solução intencional pra um problema, operando dentro de um conjunto específico de restrições. Pra ele, isso significa que, primeiro, deve existir um problema genuíno, como melhorar a mobilidade ou combater o assédio online, e depois, o design pra esse problema.
Inclusive, ele faz a gente pensar:
Será que dar lucro pra empresa é realmente um problema a ser resolvido?
Não seria, na verdade, uma consequência de um bom trabalho de design na resolução de um problema real? Ou, se for considerado um problema plausível de entrar nas variáveis do projeto, o lucro não seria algo menos prioritário, dado o objetivo original de todo e qualquer design?
Nas palavras de Mike, aumentar o valor para o acionista não é um problema, é um desejo. Possivelmente, um fetiche.
Continuando, junto com a definição da nossa profissão, ele conclui algo que pode não ser óbvio pra algumas pessoas ainda: design é trabalho, e todo trabalho é político. Ou seja, o nosso trabalho enquanto designers é sempre político, pois cada decisão tomada é inerentemente política.
E o fascismo nisso tudo? Esse é o gancho pra gente entrar no campo da ética.
“A gente precisa falar sobre ética no design, porque sem ética é fácil escorregar pro fascismo.
As soluções que a gente cria só chegam até onde a gente chega como pessoa. Elas refletem quem faz e a intenção por trás. Se o designer for podre, o design vai ser podre.
Se o designer tiver cheio de desprezo e ódio, o design também vai carregar desprezo e ódio.“
— Mike Monteiro
Porque a falta de ética é um dos pilares do fascismo. Um design sem ética não é uma solução ou projeto, é um crime.
A responsabilidade ética do design
Monteiro deixa claro, algumas boas vezes, que a responsabilidade ética é a parte mais importante e inegociável do trabalho da pessoa designer. A gente deve trabalhar como guardiões e guardiãs, avaliando o impacto das nossas criações e questionando se o propósito é prejudicar alguém.
Ou seja, não tem como criar uma “boa parede de fronteira”, usada pra segregar populações, ou um “bom banco de dados de muçulmanos”, usado pra identificar pessoas de uma religião específica, ou uma “boa arma”, usada pra… bom, você sabe. Tudo isso já é ruim por natureza.
Pra ele, trabalhar eticamente significa atuar no melhor interesse de todos e ajudar aqueles que mais precisam, cumprindo o dever de tornar o mundo um lugar melhor.
Parece utopia, né? A resposta pro seu questionamento deixo nas palavras da incrível antropóloga Margareth Mead: nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos conscientes e comprometidos possa mudar o mundo. Se você prestar atenção, é isso que tem mudado o mundo.
Pra gente fechar, percebe que a resposta pra nossa questão principal está no papel de designers a partir de suas ações individuais, decisões e contextos?
Não se trata de ser super-herói nem de uma revolução popular. É sobre ser intencional na hora de participar de projetos e contribuir positivamente pra soluções que vão afetar a vida de milhares de pessoas.
Intencionalmente antifascista.
Ou seja, intencionalmente a favor da inclusão, da transparência, da narrativa (e ações) que priorizam todas as vidas. Da ética. De ideias que unem e somam.

Não existe design neutro. Precisamos fazer nossa microparte pra que alguma microcoisa no mundo mude. Todo dia, o dia todo. Inclusive, em todo design.
“A gente luta porque, se não lutar, as pessoas apanham, são presas, têm a dignidade arrancada e acabam mortas.
E, mesmo que isso não role em escala gigante, por conta do governo, rola em vários cantos de miséria espalhados pelo mundo. E tem coisas que a gente pode fazer pra evitar.
Então, a gente tem que tentar.”
— Mike Monteiro
Contamos com você nessa luta✊
Se quiser conversar sobre o papel do design na construção de um mundo melhor, comenta aqui ou me chama!
Aquele abraço!
Referência
Mike Monteiro — How to Fight Fascism, de FBTB.
Como o design pode combater o fascismo was originally published in UX Collective 🇧🇷 on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.
