Tato de design se treina com referências diversas, experiências reais e coragem para dizer quando algo não funciona.

Meu maior medo na vida profissional é perder o tato do design.
Falo daquele tato técnico, do olhar, do bom gosto, da boa curadoria, do saber inovar e se manter sempre criativo. De saber quando algo não funciona ou como poderia funcionar melhor.
Não falo apenas da visão técnica e operacional, mas do todo. De olhar para um produto com uma visão de designer e não apenas de usuário. De entender como aquilo foi projetado, o material utilizado, tentar fazer uma engenharia reversa de cabeça para entender como foi construído.
Quando era criança eu destruía meus brinquedos para saber como funcionavam. E também computadores, meu pai ficava furioso. Eu navegava pelo Linux do pinguim ou no Windows 98 e ficava mexendo em toda configuração para saber o que acontecia, o problema é que eu não sabia desfazer as ações.

Aquilo era mágico pra mim e continua mágico até hoje. É essa a chama que eu não quero apagar.
Eu olhava cada ícone. Lembro de, com o mouse de bolinha, clicar no botão, segurar para ver a mudança, olhar por um tempo para ver o que mudou e soltar. Achava sensacional a experiência de realmente parecer que eu estava apertando um botão físico.
Quem projetou isso tinha tato. Consegue imaginar? Em uma época em que se possuíam pouquíssimas referências visuais ou de produtos, você construir uma interface que muito se assemelhava à vida real. Hoje pode parecer intuitivo para nós, mas eu suspeito que na época isso exigia um esforço tremendo.
A barreira de passar de comandos em uma tela preta para uma interface visual interativa. Com certeza as pessoas envolvidas tinham tato.
Eles não estavam pensando apenas em como traduzir o comando /ls para uma janela com todas as pastas no computador do usuário. Eles queriam que realmente o usuário tivesse a sensação de pegar uma pasta em sua gaveta, abrir e verificar os documentos.
Esse é o tato que quero manter em minha vida profissional e pessoal também.
Aprimorar o olhar
Quero fazer boas escolhas de experiência, comprar um bom abajur para a sala, cuidar do contraste nas interfaces, escolher móveis que transpirem minha personalidade, desenhar produtos que os usuários elogiem e queiram usar, escolher e melhor torneira para a minha cozinha.
Por que não viver a vida com a melhor qualidade dentro do seu orçamento?
Finesse.
Algumas coisas que faço no meu dia a dia para manter o tato:
- Sempre me atualizo das novidades da tecnologia, utilizo principalmente o TechDrop, uma newsletter semanal da área tech;Estou sempre experimentando um produto novo que chegou no mercado, seguindo perfis de indie hackers/devs que sempre trazem um produtinho bacana. Um bem legal é o Subo do Niclas Shmidt;Vivo de referências: artigos, livros, filmes, música, série, viagens, conversas com pessoas, interação no esporte;Saio da minha bolha, sou muito curioso sobre qualquer coisa que pareça interessante: economia, dados, vida animal, história, moda. Um pouco de tudo;Mantenho produtos ruins longe da mente, quanto mais você olha algo “feio”, que não funciona, que é ruim, mais seu subconsciente se nutre com isso. O Product Hunt tem uma curadoria muito boa de produtos de qualidade.
E muitas outras coisas. Mas sem pressão, evito alimentar o FOMO.
O ponto é: eu não preciso saber de tudo, e nem quero. Quero conseguir sentar numa mesa, com qualquer pessoa, e conseguir fazer a conversa fluir naturalmente, navegando entre vários temas de forma sincera.
No final das contas acredito que o bom tato em design tem muito a ver com você ser um verdadeiro curioso.
Como você exercita sua curiosidade?
Aguardo seu comentário nesse artigo!
Até
Design sem tato é só layout was originally published in UX Collective 🇧🇷 on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.
